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A Memória do Poder e a Assinatura do Governante

O que o eleitor irá lembrar?

Por Jorge Aziz em 10/03/2025 às 15:25:35

Imagem Google

Senhor Prefeito, o tempo é implacável. Não perdoa omissões, tampouco celebra intenções. No fim, a história guarda apenas o que é vivido, o que se inscreve na materialidade da cidade e na memória coletiva do povo. A política, como bem ensina a estratégia de Von Clausewitz, é a arte de definir prioridades no campo de batalha do cotidiano. Mas ao longo das gestões, Macaé tem sido um território de ocupação efêmera, onde as marcas do poder são frequentemente soterradas pela burocracia ou pela obsolescência de projetos que não duram mais do que um ciclo eleitoral.

Se um visitante chegar à cidade hoje, o que identificaria como legado de suas administrações passadas? Talvez veja um CIEP e se lembre de Darcy Ribeiro e Leonel Brizola. Passe pela Cidade Universitária e reconheça o esforço de interiorização do ensino superior. Encare o Hospital Público Municipal e compreenda sua importância para o cotidiano da cidade. Projetos concretos, frequentados, utilizados, inscritos na paisagem urbana e na vida das pessoas. Mas e o senhor, prefeito? O que deixará para ser lembrado?

Yuval Harari nos alerta que as grandes estruturas políticas e institucionais não existem no mundo físico, mas sim nas redes intersubjetivas da sociedade. Elas vivem enquanto são compartilhadas, acreditadas e praticadas. Eis um dilema de governança: uma cidade não se constrói apenas de concreto e asfalto, mas de significados e pertencimentos. Se as obras se tornam apenas reformas perpétuas, se os equipamentos públicos são elefantes brancos em sucessivas manutenções, se a cultura é um projeto sempre adiado, qual a identidade política que se constrói?

Na administração pública, o erro não deveria ser um fardo repetido, mas uma lição corrigida. Clausewitz ensinava que, na guerra, a fricção entre estratégia e realidade obriga ajustes constantes. No governo, essa fricção se manifesta na incapacidade de planejar além do curto prazo, de construir políticas que transcendam mandatos. Se a cada nova gestão se refazem as mesmas estradas, as mesmas reformas, as mesmas promessas, onde está a real transformação? A burocracia, como Max Weber apontava, pode ser um instrumento de eficiência, mas também um labirinto que engole a inovação.

E o eleitor, senhor prefeito? Ele é pragmático. Seu julgamento se molda pelo que vê e experimenta. Um centro cultural fechado, um ginásio em reformas eternas, um projeto urbano interrompido – tudo isso constrói uma narrativa de desconfiança. A memória política da cidade, então, não se estrutura pelo que se prometeu, mas pelo que se viveu.

A pergunta é inevitável: ao término de oito anos de governo, qual será sua assinatura? O que Macaé poderá apontar e dizer: isto veio dessa gestão, isto mudou a cidade, isto fez diferença em nossa história?

Se a política é a arte de definir prioridades, e a história é tecida pela memória dos cidadãos, a resposta não virá de discursos, mas do cotidiano da cidade. No fim, não há forma racional e objetiva de definir os destinos de um governo. Há, no entanto, uma verdade prática: se o povo não vê, não lembra. Se não lembra, não reconhece. E sem reconhecimento, o tempo se encarrega de apagar nomes e gestões como marcas na areia levadas pelo vento.

Corretora
Zion