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Era uma vez um tempo em que o perigo estava nas ruas, nas vielas escuras, nas esquinas desertas. Agora, ele se esconde em algo mais invisível e implacável: os algoritmos. Eles não precisam de juízes, nem de tribunais. Julgam silenciosamente, decidem quem será visto e quem será apagado, quem será louvado e quem será queimado na fogueira digital.
Yuval Harari chamou esse fenômeno de "as Novas Bruxas". No passado, bastava um boato, um olhar atravessado, um rumor espalhado na feira para que alguém fosse acusado de bruxaria e condenado à fogueira. Hoje, os algoritmos cumprem esse papel, decidindo, com lógica implacável, quem será elevado ao pódio da popularidade e quem será arrastado para o esquecimento. Mas, ao contrário dos inquisidores medievais, os algoritmos não servem a um Deus ou a um rei. Eles servem ao mercado da atenção, onde a indignação vale mais que a verdade, e o engajamento é a única moeda de troca.
Foi assim que políticos como Fisher Jordy e Kim Kataguiri entenderam o jogo e conquistaram o poder. Eles não precisavam ser os mais preparados, nem os mais articulados. Precisavam apenas saber alimentar os algoritmos com o tipo certo de fúria. O ataque a minorias? Engaja. Fake news sobre adversários? Engaja. Teorias da conspiração? Engajam como nunca. O algoritmo não se importa com a ética, apenas com o tráfego.
E é aqui que a liberdade individual entra em xeque. No passado, as ideologias se confrontavam nas ruas, nas praças, nos jornais. Hoje, as ideias são filtradas antes mesmo de chegarem ao público. Se o algoritmo decidir que sua opinião não gera engajamento suficiente, ela simplesmente desaparece. A nova censura não precisa de um governo autoritário nem de um grande ditador. Ela acontece de forma automática, silenciosa, imposta por linhas de código que ninguém vê.
Para quem está no topo desse sistema, tudo parece um jogo. Mas para quem cai em desgraça, o pesadelo é real. O mesmo algoritmo que eleva um candidato pode destruí-lo num piscar de olhos. Um escândalo fabricado, uma onda de deslikes coordenada, um vídeo tirado de contexto – e pronto. A multidão digital está sedenta por uma nova caça às bruxas. E quem antes acendia a fogueira, pode ser o próximo a ser queimado.
No fim, a pergunta que Harari nos faz é clara: ainda somos senhores das nossas opiniões? Ou já somos apenas marionetes de um sistema que decide, sem que percebamos, o que devemos sentir, odiar e temer?
A resposta não está na urna, nem no discurso dos políticos. Está no feed de notícias que você rola agora, sem perceber que sua própria liberdade pode estar se dissolvendo, uma curtida de cada vez.
Fonte: Nexus, Yuval N. Harari